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sexta-feira, 8 de junho de 2012

Rumo a 2014: A Húngria, tenta resgatar os anos de ouro









Na estréia da nova coluna, vamos passar pela história da seleção dourada de Puskas

Por Ismael Sousa

Hoje vamos inaugurar a nova coluna especial, “Rumo a 2014” irá seguir a seleção hungará em sua tentativa de se classificar para a  Copa do Mundo de 2014, aqui no Brasil. A seleção da Húngria, que foi eleita uma das melhores do mundo na década de 50, tenta voltar a suas épocas de glórias. Liderada por Puskas, um dos maiores jogadores da história do futebol mundial, conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos em Helsinque, na Finlândia, e se manteve invicta durante 36 jogos, quebrando o recorde, entre as seleções.

O Futebol e Etc, traz uma reportagem especial feita pelo site TRIVELA, onde conta detalhadamente toda a tragetória do “Time de Ouro”.

Meio Século da Seleção de Ouro
Grosics; Buzansky, Lorant, Zakarias e Lantos; Bozsik e Hidegkuti; Budai, Kocsis, Puskas e Czibor. Muitos jovens nem imaginam quem foram esses homens ou de qual país sejam eles. Preocupam-se mais com os Beckhams e seus marketing de hoje em dia, com as camisas coloridas e caríssimas dos clubes de futebol ou mesmo com seus jogos de computadores. A história heróica de certos fatos some na memória dos mais jovens.
Mas em 15 de novembro de 1953, há pouco mais de 50 anos, esse time entrou em campo no legendário Estádio de Wembley, em Londres, para escrever um capítulo especial na história do futebol mundial.
Nesse dia, a seleção inglesa foi derrotada pela primeira vez por um time de fora do Reino Unido no tradicional estádio. Não apenas derrotada, mas humilhada. Os húngaros, comandados por Ferenc Puskas, golearam o English Team por 6 a 3. Após a acachapante derrota, os ingleses pediram uma revanche, que foi dada. Pior para os ‘lords’. Desta vez, na Hungria, 7 a 1 para os donos da casa.
Durante o final da década de 40 e início da década de 50, a seleção húngara assombrou o mundo do futebol com uma tática inovadora e um verdadeiro esquadrão. Durante quase cinco anos permaneceu invicta, conquistou títulos, mas falhou no jogo mais importante de todos. Aliado a tudo isso, a Hungria vivia momentos conturbados em sua história política, e o esporte, como não poderia deixar de ser, foi usado como ferramenta pelos governantes. Vale a pena lembrar um pouco desse time especial, que ficou conhecido como “A Seleção de Ouro”.
Como tudo começou
Depois da Segunda Guerra Mundial, em 1946, a Hungria tornou-se uma república, e deu-se início à estatização das indústrias e ao fim das grandes propriedades. Dois anos mais tarde, foi formado um novo governo, composto por membros do Partido Comunista e, numa segunda eleição, que só oferecia comunistas como opção de governo, a Hungria passou a ser governada por ideais stalinistas, sob a influência da União Soviética.
Paralelo a isso, em 1946, o campeonato nacional de futebol recomeçou. Todos os jogadores húngaros atuavam no país, até porque eram proibidos pelo governo de jogarem fora. O técnico da seleção, Gallowich, via com grande expectativa o surgimento de novos valores como Bozsik, Czibor e Puskas.
Em maio de 1947, começaram a surgir os primeiros grandes resultados da seleção húngara. Uma vitória por 5 a 2, contra os tradicionais rivais da Áustria, diante de 38 mil fanáticos torcedores húngaros, começava a mostrar do que aqueles jogadores eram capazes.
Foi quando o regime socialista passou a estender seus braços para o esporte com mais vigor, principalmente pelo reconhecimento que a seleção ganhava no exterior. No início de 1948, Gallowich pediu demissão e um trio de técnicos, que incluía Gustav Sebes, assumiu o comando do time. Um ano depois, Sebes ficou como o único comandante.
A base da equipe, composta por Grosics, Bozsik, Budai, Kocsis, Hidegkuti e Puskas, já estava composta. Um 4-2-4, esquema totalmente novo para a época (praticamente todos os times do mundo usavam o esquema ‘WV’), foi implantado. Um futuro brilhante se aproximava daquela seleção.
Olimpíadas e Copa do Mundo
A Hungria não participou da Copa do Mundo de 1950, no Brasil, devido a problemas financeiros. A viagem, feita de barco, era muito cara, e muitos outros países europeus também desistiram da competição.
Em 1952, aconteceriam os Jogos Olímpicos em Helsinque, na Finlândia. Os Jogos foram levados a sério pelos governos comunistas, principalmente como arma de propaganda contra o Ocidente. Enquanto isso, na Hungria, o regime stalinista atingia seu apogeu com a nomeação do secretário-geral do Partido Comunista, Matyas Rakosi, como Primeiro-Ministro.
Foram quatro jogos até a final, com vitórias sobre Romênia, Itália, Turquia e Suécia. Na semifinal, contra os suecos, da arquibancada um ilustre torcedor assistia à partida: Stanley Rous, um dos maiores jogadores ingleses de todos os tempos, então dirigente da Footbal Association. Foi quando surgiu o convite para o confronto entre ingleses e húngaros.
A vitória por 2 a 0 na final das Olimpíadas, contra a Iugoslávia, fez com que os húngaros voltassem como verdadeiros heróis para casa. E para o governo, não poderia ter havido triunfo maior para o Comunismo. Além disso, a Hungria ficou na terceira colocação no quadro geral da competição, com mais 15 medalhas de ouro, atrás somente de Estados Unidos e URSS. Festa para o governo comunista e alegria para a população.
A derrota impossível

Depois das Olimpíadas, os húngaros tornaram-se respeitados em toda a Europa. No período que se seguiu até a Copa do Mundo de 1954, na Suíça, a Hungria provou sua força ao destruir os ingleses e chegou ao torneio ostentando uma invencibilidade de quase cinco anos. As vitórias sobre os britânicos promoveram uma euforia geral em toda a população e no governo.
Os húngaros, comandados por Puskas, praticavam um futebol mágico. O 4-2-4 de Sebes era inovador, mas não era essa a única novidade: antes de todos os jogos, os jogadores se aqueciam. Entravam em campo como se já estivessem jogando. Às vezes, realmente ficavam jogando antes do início das partidas, o que fazia com que entrassem na arena muito mais preparados do que os rivais. E o resultado disso era que, freqüentemente, o time assumia a liderança nos primeiros 15 minutos de jogo.
“Os húngaros jogavam por música. A equipe era, realmente, revolucionária. O goleiro Grosics rompia a tradição do pássaro engaiolado. Circulava pela grande área com a desenvoltura de um beque. O ataque húngaro era um primor de harmonia. O movimento simultâneo de Hidegkuti, Kocsis, Bozsik, Czibor e Budai tinha qualquer coisa de musical”, afirma o jornalista Armando Nogueira.
Na Copa, eles chegaram como francos favoritos. Foram massacrando todos os rivais que apareciam pela frente: estréia com 9 a 0 sobre a Coréia do Sul, goleada sobre a Alemanha Ocidental por 8 a 3 e vitórias sobre Brasil (que ficou conhecida como a “Batalha de Berna”) e Uruguai por 4 a 2.
Como esperado, os húngaros chegaram à final, contra os mesmos alemães, que na primeira fase foram goleados. Porém, deve-se lembrar que no primeiro encontro entre as equipes, os alemães colocaram muitos reservas em campo. Além disso, Puskas era dúvida, devido a uma lesão, mas acabou jogando mesmo sem estar em suas melhores condições. Outros jogadores húngaros também chegaram à decisão machucados, devido às violentas partidas contra Brasil e Uruguai. A partida começou como sempre. Com 15 minutos de jogo, estava 2 a 0 para a Hungria. Mas o inesperado aconteceu. Os alemães marcaram três vezes e viraram o jogo, conquistando o título.
Muitos fatos estranhos aconteceram naquele dia. Um dos mais comentados é que foram descobertas ampolas vazias no vestiário alemão. Alguns jogadores da Alemanha chegaram a admitir, anos mais tarde, que usaram substâncias não identificadas.
Suspeitas à parte, uma invencibilidade de 36 jogos (32 vitórias e quatro empates) em quase cinco anos chegava ao fim. Mais do que o fim de uma série invicta, essa derrota efetivamente acabou com a Seleção de Ouro.
A triste sina da Seleção de Ouro

O governo comunista não podia aceitar a derrota. E assim o fez. A culpa caiu diretamente sobre os jogadores. Eles perderam seus privilégios e a tranqüilidade. A pressão por parte do governo passou a ser imensa. A seleção continuou jogando, mas era vítima da indiferença dos governistas, e os resultados deixaram de ser tão bons.
Paralelamente a isso, a situação política na Hungria vinha piorando. A partir de 1955, atacado por manifestações e denúncias por todos os lados, o governo de Rakosi foi se deteriorando, principalmente após a destituição Primeiro-Ministro Imre Nagy. Isso teve reflexos no comando da seleção, e Sebes foi demitido. Para completar, Puskas começou a ter problemas com o peso e com o governo. Era o início do fim.
Em 23 de outubro de 1956, aconteceu o Levante de Outubro na Hungria, que durou cinco dias. Liderada por estudantes e trabalhadores, a revolta popular mudou um pouco a cara da Hungria e, no dia 26, as forças soviéticas deixaram a capital Budapeste. A estátua de Stalin, no centro da cidade, foi derrubada e queimada pela população.
Mas o novo panorama político não reverteu a tendência de queda da seleção. A partir de 1957, os principais jogadores húngaros desertaram e nunca mais voltaram a defender seu país ou seus clubes na Hungria. Alguns foram suspensos pela FIFA, caso de Puskas, que só voltou a jogar em 1958, no Real Madrid – onde, ao lado de Di Stéfano, fez parte de um dos maiores esquadrões de todos os tempos.
Décadas depois

Desde então, a Hungria nunca mais conseguiu reaver o futebol dos anos 50. Nas décadas seguintes, o futebol húngaro caiu junto com o sistema comunista e o império soviético.
Antes de 1954, a Hungria já havia disputado as Copas de 34 (sexto lugar) e 38, quando também se sagrou vice-campeã mundial. Depois de 54, a nação participou de mais seis Copas do Mundo, onde se vê claramente o declínio do futebol no país: 1958 (décimo lugar), 1962 (quinto lugar), 1966 (sexto lugar), 1978 (15o lugar), 1982 (14o lugar) e 1986 (16o lugar).
A seleção ainda chegou a vencer outras duas vezes o torneio olímpico de futebol, em 1964 e 1968, mas nessa época os times do leste europeu eram favorecidos pela proibição de atletas profissionais nas Olimpíadas. Nas décadas de 70 e 80, o time não reunia mais grandes craques e foi se esfacelando aos poucos. Com o tempo, o apoio do governo também foi caindo, o dinheiro sumiu e a seleção húngara tornou-se apenas mais uma no mundo.
Atualmente, a equipe ocupa uma posição intermediária no cenário europeu, com chances remotas de classificação para torneios importantes. Uma curiosidade é que no atual elenco consta um jogador nascido no Brasil: Leandro de Almeida, 22 anos, ex-Corinthians, São Paulo e Vitória, que há anos joga no campeonato húngaro e atualmente defende o Ferencvaros.
Porém, os tempos dourados se foram. O sistema político mudou muito, o Comunismo sucumbiu e o futebol espetáculo passou a ser o do Brasil. Mas o que a Seleção de Ouro fez, vai ficar marcado para sempre na história do futebol. Não só como um dos maiores times de todos os tempos, mas também como alguns dos maiores homens da história.

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